Ex-treinador afirma que Mano Menezes paga o preço pela seleção não ter base da última Copa e precisa olhar muitos jogadores para formar time com experiência
Foto: Arthur Stabile
Ele pode estar fora das quatro linhas, mas faz questão de “ficar
ligadão com o futebol”. Carlos Alberto Parreira, técnico tetracampeão mundial
com a seleção brasileira, diz ser impossível se desligar do futebol, isto pelos
seus 45 anos de vida dedicados ao esporte, que renderam a ele poder conhecer o
mundo, viajar, fazer amigos, e isso em “uma atividade interessante e com enorme
pressão”, como diz.
Em um coquetel no Club Med, em Angra dos Reis (RJ), o
ex-treinador da seleção brasileira cedeu algumas palavras ao blog, comentando do
orgulho que sente dos títulos conquistados em sua carreia à frente de clubes e
seleções, e ressalta que o tetra pela seleção brasileira tem visibilidade maior
do que qualquer coisa. Segundo ele, é inimaginável que nossa seleção não
consiga vencer uma Copa em casa, apesar da pressão que sempre será grande, e Mano Menezes tem que pagar o preço da seleção brasileira não ter mantido nenhuma base da última Copa.
Humilde, Parreira fez questão de “colocar os fatos”
corretos, falando de sua presença em nove Copas do Mundo, sendo o único
treinador a estar presente em seis edições do mundial. O comandante campeão em
94 comentou na entrevista as diferenças do estilo de jogo do período do tetra e
do futebol de hoje, definindo como “menos técnico e com muito mais exigências”, além
de afirmar que não sabe até quando Neymar vai aguentar a atual rotina de
seguidos jogos que enfrenta. Confira a entrevista:
Arthur Stabile: O senhor participou de cinco Copas do Mundo
por diferentes seleções, não só a brasileira. Como é encarar a seleção
brasileira como adversária?
Carlos Alberto Parreira: Não estou lhe corrigindo, apenas
colocando os fatos. Eu participei de seis Copas como treinador, o único técnico
na história a participar de seis Copas, e participei de nove Copas. Seis como
treinador, duas como treinador físico e uma trabalhando com a FIFA. Quando um
profissional chega a este ponto, a este limite, você cumpre a sua missão. Se eu
tivesse dirigindo uma seleção contra a seleção brasileira evidentemente eu
faria tudo para meu time vencer a seleção brasileira. Eu acho que o lado
profissional é esse. Com todo o respeito, carinho, com toda a devoção que a
gente tem pela seleção brasileira, eu ou qualquer profissional, tenho certeza
que faria a mesma coisa.
AS: Já se passaram 18 anos desde o tetracampeonato. Quais
são as diferenças que o senhor vê do futebol atual com o futebol da época do
tetra?
CAP: O futebol hoje ele não é mais técnico, ele não é
mais bonito, mas sem duvida alguma exige muito mais dos treinadores, dos
jogadores. O futebol é muito mais midiático, muito mais brigado dentro do
campo, as equipes tem que ter um preparo físico muito grande. Agora ele é muito
profissional, tem muito dinheiro envolvido. As vitórias são muito importantes e
isso exige muito mais dos jogadores, do treinador, que tem uma pressão muito
grande. Evidentemente o futebol é muito mais corrido. Tem uma palavra que os
europeus utilizam muito, que estamos trazendo pra cá, as chamadas transições,
atacar e defender com muita gente atrás e na frente, ir e vir o mais rápido
possível. Então defender com muita gente atrás e atacar com muita gente na
frente e vice-versa, na hora que perde a bola ou ganha mudar essas posições.
É muito mais difícil jogar futebol hoje. E tem muitas
competições também, que aumentaram muito. Os jogadores jogam uma média de 60,
70 jogos no ano, o que é uma coisa impressionante e exige muito do
profissional.
AS: Essa necessidade de atuar em tantos jogos atrapalha o
rendimento do jogador?
CAP: Atrapalha porque você deixa de treinar e
praticamente joga. Tem treinador e preparador físico que invés de treinar o
time a única preocupação é recuperar para o próximo jogo, quando deveria ser o
contrário, preparar treinando para o jogo. Esse seria o ideal, a utopia geral.
É quase que uma utopia no Brasil hoje.
AS: Exemplo o caso do Neymar...
CAP: O Neymar então nem preciso falar. Ele está
suportando por que ele tem apenas 20 anos, tem uma coisa legal, que eu acho que
é positiva, ele adora jogar futebol, ele gosta e se diverte jogando
futebol. Até quando isso vai ser
possível eu não sei. Eu lembro do Boris Becker. Sabe que o tênis exige muito. O
tênis é impressionante, eles jogam toda semana na Ásia, na áfrica, na Europa,
na America do sul... Principalmente Europa e Estados Unidos. O Boris Becker com
24 anos pirou. Ele foi campeão em Wimbledon com 17 anos e oito anos depois ele
pirou, largou tudo, não aguentava mais aquele ritmo alucinante, ficar fora de
casa, competindo... Ele largou tudo com 25 anos.
AS: Como você visualiza a atual seleção do Mano Menezes?
Acredita que é possível conquistar a Copa do Mundo aqui no Brasil?
CAP: Não é só possível como nós temos que
conquistar. Pra mim eu sempre digo que é
inimaginável, impensável que a seleção não ganhe em casa. Ela é a única das
grandes seleções que pode perder duas Copas em casa. Nós temos que dar um jeito
de ganhar. Hoje nos estamos ainda em uma fase de transição. É um termo muito
usado, muito repetitivo, mas sem duvida alguma é uma realidade. O Brasil não
deixou nenhuma base da ultima Copa pra agora, são pouquíssimos jogadores.
Normalmente fica uma base e muitos jogadores de uma Copa pra outra, não ficou
quase nada e o Mano tem que pagar esse preço, tem que olhar muitos jogadores,
tem que formar um time e dar experiência. Jogar em casa a pressão é muito
grande, sempre.
AS: Excluindo o Brasil, quem o senhor coloca como seleção
mais apta pra ser campeã mundial em 2014?
CAP: Ah, tem várias. A Alemanha é sempre uma seleção
titular, evidentemente hoje a grande favorita é a Espanha. A própria Argentina
vem melhorando muito. Holanda, Itália, o Brasil e argentina na América do Sul.
Na Europa eu coloco a Inglaterra com o novo treinador, que conhece muito de
futebol, pode ser um time que venha a surpreender, tem história, tem tradição.
Eu colocaria Alemanha e Espanha, ou Espanha e Alemanha, pela ordem, e mais a
Holanda e a Itália como os grandes times que poderão fazer uma grande figura
aqui no Brasil, e são candidatos ao título.
AS: Falando de clubes, hoje as equipes buscam muito um
setor defensivo para conquistar títulos. O senhor acredita que esta mudança no
futebol brasileiro é uma evolução do nosso futebol?
CAP: Nos treinadores aprendemos que no futebol não existe
time que ganha só defendendo ou só atacando, tem que saber fazer as duas
coisas. Eu acho que nosso futebol não é excessivo, as equipes às vezes, em
determinadas situações, usam um esquema mais conservador, mas no modo geral os
times têm jogado com três atacantes, com laterais avançando. Eu acho que o
ideal do futebol é saber atacar e defender com a máxima eficiência, essa é a
síntese final do futebol.
AS: O senhor dirigiu o Corinthians e foi campeão da Copa do
Brasil em 2002. O que representa a conquista da Libertadores pelo time neste
ano?
CAP: Para o corintiano era o grande título que faltava. Representa
muito na historia do clube, tanto é que o torcedor fanático do Corinthians almejava...
Faltava este título para a história de um clube grande como o Corinthians. Eu
acho que é o título mais importante da América do Sul, sem duvida alguma, fora
os campeonatos nacionais, que é o título da Libertadores, que poderá ser coroado
com o de campeão mundial.
Ouça a entrevista abaixo:
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