Gramado – Nos últimos anos, a questão da acessibilidade vem ganhando
espaço nas discussões de diversos setores da indústria brasileira. Mercado
básico para a indústria turística no país, a hotelaria apresenta barreiras para
a locomoção de pessoas com baixa mobilidade por sua arquitetura não ser pensada
para este público.
“Por muitas vezes não pude ficar em um hotel com minha
esposa pelas condições não serem mínimas”, explicou Valdemar Rodrigues, cuja
mulher é tetraplégica. Em seu caso, os
empreendimentos não oferecem equipamentos para pessoas com locomoção limitada,
e quando existem “são emprestados e de baixa qualidade”, diz.
Em Gramado, o hotel Villa Bella apresenta
estrutura inversa dos demais hotéis do setor, no município e até de grandes
centros e nas capitais. Hospedado na unidade para participação como palestrante
no 24º Festival de Turismo de Gramado, que neste ano apresenta a acessibilidade
como tema central, Ricardo Shimosakai, presidente da organização Turismo
Adaptado, afirma que selos de acessibilidade são banalizados pelos hotéis, e
muitas vezes são acessíveis “apenas na cabeça dos administradores”, declarou em
sua participação no festival.
Presidente disse que cadeirantes experientes não confiam nos selos de acessibilidade dos hotéis |
Melhorias – Durante sua construção, o Villa Bella teve arquitetura
pensada para o caso de hóspedes com estas dificuldades, incluindo rampas, áreas
sociais com móveis em altura reduzida e estrutura adaptada nos banheiros, além
de veículo adaptado. “Investimos todos os anos em treinamento de colaboradores
para atender devidamente os clientes com limitações locomotoras”, afirma o
diretor do hotel, Roger Bacchi, que quer tornar o empreendimento “referência de
acessibilidade no Brasil”, declara.
Público em crescimento – O público com limitações na
locomoção representa 45 milhões de brasileiros (quase 10% da população) e já
atingiu um bilhão de pessoas em todo o mundo, segundo dados apresentados pelo
presidente da Turismo Adaptado. “Os EUA lucram US 14 milhões com este público.
Precisamos aproveitá-lo também”, acrescentou Shimosakai. Para ele, os brasileiros
com limitações só não viajam mais porque não existe a “estrutura necessária” na
hospedagem ou na infraestrutura das cidades.
“Independente da lei, faltam detalhes para melhorar”,
ressaltou Shimosakai, que ainda afirmou precisar elevar de “boa para fantástica”
a estrutura do hotel, considerado de “nível internacional” pelo presidente.
Publicado originalmente no Diário do Turismo.
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