Nele estavam presentes o Deputado Estadual pelo Psol Carlos
Giannazi, o Professor Milton Bueno, o representante da Uneafro Douglas Belchior e a representante do Comitê, Patrícia Toni. Mas o principal convidado foi o
Presidente Nacional do Psol, Plínio de Arruda Sampaio, candidato à presidência da
república na última eleição em 2010.
No dia, tive a oportunidade de entrevistar a principal referência da
esquerda política brasileira na atualidade junto com blogueiro Magno Oliveira, do blog
Folhetim Cultural. Acompanhe a entrevista a seguir:
Foto: Marco Aurélio
Arthur Stabile: Na época do governo ditatorial era normal
acontecerem perseguições políticas. Agora, em um estado democrático, porque os
governos perseguem criminalizando este movimentos sociais?
Plínio de Arruda: Porque na verdade essa democracia é uma democracia muito
relativa. É uma democracia para um grupo. Para a burguesia, para que tem força,
ai é democrático, ninguém tem violado seus direitos. Mas se você for preto, se
você for pobre, se você for pedreiro, quer dizer, os três P, ah, não tem
direito nenhum. Não se ponha diante de um policial que apanha mesmo.
AS: Há duas semanas foi instaurada a comissão da verdade.
Qual será o papel deste grupo e ele não focará a época da ditadura, e porque esta
causa?
PAS: Pois é, eu não estou entendendo bem a missão dessa Comissão
da Verdade. Primeiro esse dado que você colocou. Se não vai investigar a
tortura na ditadura, quando é que vai investigar? E segundo, eu não gostei da
declaração do ministro José Carlos Dias, o Zé Carlos disse o seguinte: eu vou
investigar os dois. Como? Quem tem alguma noção, alguma ideia, alguma notícia,
algum indício de que a turma da guerrilha, da luta armada torturou um oficial
do exército, um soldado. É um absurdo. Entendeu? Uma coisa é você lutar contra
dar tiro, matar, isso é um crime. Agora, torturar é outro crime. Torturar é um
crime hediondo, e portanto um crime que não prescreve. Se você matar uma pessoa
prescreve, depois de 30 anos você está livre. Agora o crime hediondo não tem
prescrição, é imprescritível, de modo que não entendi nem a Comissão e não
entendi as declarações do seu presidente.
Magno Oliveira: Em 85 houve uma revolução política, o senhor ainda
acredita que a política pode ser um meio para mudar o país e o que você pensa de
uma revolução educacional e uma revolução cultural?
PAS: Não tem revolução cultural e não tem revolução
educacional sem revolução política. Enquanto este regime for um regime burguês,
esquece a cultura para o povo, esquece a educação para o povo. A cultura será
sempre da elite, a educação sempre para a elite.
AS: Como o senhor analisa a CPI do Cachoeira?
PAS: Complicado. O que me espanta dessa CPI é a CPI. Porque
isso é normal. O normal é que os Cachoreiras façam negociatas com os políticos.
Isso é normal. O anormal é que isto vá para uma CPI.
MO: O Lula se juntou ao Collor, se juntou com o Sarney.
Você acha que ele perdeu o direito de falar que chegou ao poder por ideologia?
E também, falta sentimento, falta feeling para quem alcança o poder e continuar
sendo o que era antes de chegar lá?
PAS: Não, não falta sentimento para quem alcança o poder.
O Fidel Castro está no poder e não perdeu o seu sentimento. Eu tive em Cuba e fui
jantar na casa da viúva de um comandante, e ela me disse o seguinte: durante o
período especial, nós só não perdemos o poder, não caímos, porque todos viram
,todos, que o Fidel e todos nós comíamos o que todos comiam.
MO: O Lula ao se juntar a estes políticos que eu citei
perdeu o direito de falar que chegou ao poder por ideologia? Hoje ele só quer o
poder?
PAS: É, hoje eu estou convencido que ele não teve
ideologia nunca. Ele chegou, olhou, viu o ambiente e falou: a direita está muito
congestionada, deixa eu ir pra esquerda. Foi isso. A hora que ele percebeu que
para ir para o poder ele precisada do outro ele foi.
Confira o áudio da entrevista:
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