sábado, 22 de setembro de 2012

Carlos Alberto Parreira: “Podemos ser os únicos a perder duas Copas em casa”

Ex-treinador afirma que Mano Menezes paga o preço pela seleção não ter base da última Copa e precisa olhar muitos jogadores para formar time com experiência

Foto: Arthur Stabile

Ele pode estar fora das quatro linhas, mas faz questão de “ficar ligadão com o futebol”. Carlos Alberto Parreira, técnico tetracampeão mundial com a seleção brasileira, diz ser impossível se desligar do futebol, isto pelos seus 45 anos de vida dedicados ao esporte, que renderam a ele poder conhecer o mundo, viajar, fazer amigos, e isso em “uma atividade interessante e com enorme pressão”, como diz.

Em um coquetel no Club Med, em Angra dos Reis (RJ), o ex-treinador da seleção brasileira cedeu algumas palavras ao blog, comentando do orgulho que sente dos títulos conquistados em sua carreia à frente de clubes e seleções, e ressalta que o tetra pela seleção brasileira tem visibilidade maior do que qualquer coisa. Segundo ele, é inimaginável que nossa seleção não consiga vencer uma Copa em casa, apesar da pressão que sempre será grande, e Mano Menezes tem que pagar o preço da seleção brasileira não ter mantido nenhuma base da última Copa. 

Humilde, Parreira fez questão de “colocar os fatos” corretos, falando de sua presença em nove Copas do Mundo, sendo o único treinador a estar presente em seis edições do mundial. O comandante campeão em 94 comentou na entrevista as diferenças do estilo de jogo do período do tetra e do futebol de hoje, definindo como “menos técnico e com muito mais exigências”, além de afirmar que não sabe até quando Neymar vai aguentar a atual rotina de seguidos jogos que enfrenta. Confira a entrevista:

Arthur Stabile: O senhor participou de cinco Copas do Mundo por diferentes seleções, não só a brasileira. Como é encarar a seleção brasileira como adversária?
Carlos Alberto Parreira: Não estou lhe corrigindo, apenas colocando os fatos. Eu participei de seis Copas como treinador, o único técnico na história a participar de seis Copas, e participei de nove Copas. Seis como treinador, duas como treinador físico e uma trabalhando com a FIFA. Quando um profissional chega a este ponto, a este limite, você cumpre a sua missão. Se eu tivesse dirigindo uma seleção contra a seleção brasileira evidentemente eu faria tudo para meu time vencer a seleção brasileira. Eu acho que o lado profissional é esse. Com todo o respeito, carinho, com toda a devoção que a gente tem pela seleção brasileira, eu ou qualquer profissional, tenho certeza que faria a mesma coisa.

AS: Já se passaram 18 anos desde o tetracampeonato. Quais são as diferenças que o senhor vê do futebol atual com o futebol da época do tetra?
CAP: O futebol hoje ele não é mais técnico, ele não é mais bonito, mas sem duvida alguma exige muito mais dos treinadores, dos jogadores. O futebol é muito mais midiático, muito mais brigado dentro do campo, as equipes tem que ter um preparo físico muito grande. Agora ele é muito profissional, tem muito dinheiro envolvido. As vitórias são muito importantes e isso exige muito mais dos jogadores, do treinador, que tem uma pressão muito grande. Evidentemente o futebol é muito mais corrido. Tem uma palavra que os europeus utilizam muito, que estamos trazendo pra cá, as chamadas transições, atacar e defender com muita gente atrás e na frente, ir e vir o mais rápido possível. Então defender com muita gente atrás e atacar com muita gente na frente e vice-versa, na hora que perde a bola ou ganha mudar essas posições.

É muito mais difícil jogar futebol hoje. E tem muitas competições também, que aumentaram muito. Os jogadores jogam uma média de 60, 70 jogos no ano, o que é uma coisa impressionante e exige muito do profissional.

AS: Essa necessidade de atuar em tantos jogos atrapalha o rendimento do jogador?
CAP: Atrapalha porque você deixa de treinar e praticamente joga. Tem treinador e preparador físico que invés de treinar o time a única preocupação é recuperar para o próximo jogo, quando deveria ser o contrário, preparar treinando para o jogo. Esse seria o ideal, a utopia geral. É quase que uma utopia no Brasil hoje.

AS: Exemplo o caso do Neymar...
CAP: O Neymar então nem preciso falar. Ele está suportando por que ele tem apenas 20 anos, tem uma coisa legal, que eu acho que é positiva, ele adora jogar futebol, ele gosta e se diverte jogando futebol.  Até quando isso vai ser possível eu não sei. Eu lembro do Boris Becker. Sabe que o tênis exige muito. O tênis é impressionante, eles jogam toda semana na Ásia, na áfrica, na Europa, na America do sul... Principalmente Europa e Estados Unidos. O Boris Becker com 24 anos pirou. Ele foi campeão em Wimbledon com 17 anos e oito anos depois ele pirou, largou tudo, não aguentava mais aquele ritmo alucinante, ficar fora de casa, competindo... Ele largou tudo com 25 anos.

AS: Como você visualiza a atual seleção do Mano Menezes? Acredita que é possível conquistar a Copa do Mundo aqui no Brasil?
CAP: Não é só possível como nós temos que conquistar.  Pra mim eu sempre digo que é inimaginável, impensável que a seleção não ganhe em casa. Ela é a única das grandes seleções que pode perder duas Copas em casa. Nós temos que dar um jeito de ganhar. Hoje nos estamos ainda em uma fase de transição. É um termo muito usado, muito repetitivo, mas sem duvida alguma é uma realidade. O Brasil não deixou nenhuma base da ultima Copa pra agora, são pouquíssimos jogadores. Normalmente fica uma base e muitos jogadores de uma Copa pra outra, não ficou quase nada e o Mano tem que pagar esse preço, tem que olhar muitos jogadores, tem que formar um time e dar experiência. Jogar em casa a pressão é muito grande, sempre.

AS: Excluindo o Brasil, quem o senhor coloca como seleção mais apta pra ser campeã mundial em 2014?
CAP: Ah, tem várias. A Alemanha é sempre uma seleção titular, evidentemente hoje a grande favorita é a Espanha. A própria Argentina vem melhorando muito. Holanda, Itália, o Brasil e argentina na América do Sul. Na Europa eu coloco a Inglaterra com o novo treinador, que conhece muito de futebol, pode ser um time que venha a surpreender, tem história, tem tradição. Eu colocaria Alemanha e Espanha, ou Espanha e Alemanha, pela ordem, e mais a Holanda e a Itália como os grandes times que poderão fazer uma grande figura aqui no Brasil, e são candidatos ao título.


AS: Falando de clubes, hoje as equipes buscam muito um setor defensivo para conquistar títulos. O senhor acredita que esta mudança no futebol brasileiro é uma evolução do nosso futebol?
CAP: Nos treinadores aprendemos que no futebol não existe time que ganha só defendendo ou só atacando, tem que saber fazer as duas coisas. Eu acho que nosso futebol não é excessivo, as equipes às vezes, em determinadas situações, usam um esquema mais conservador, mas no modo geral os times têm jogado com três atacantes, com laterais avançando. Eu acho que o ideal do futebol é saber atacar e defender com a máxima eficiência, essa é a síntese final do futebol.

AS: O senhor dirigiu o Corinthians e foi campeão da Copa do Brasil em 2002. O que representa a conquista da Libertadores pelo time neste ano?
CAP: Para o corintiano era o grande título que faltava. Representa muito na historia do clube, tanto é que o torcedor fanático do Corinthians almejava... Faltava este título para a história de um clube grande como o Corinthians. Eu acho que é o título mais importante da América do Sul, sem duvida alguma, fora os campeonatos nacionais, que é o título da Libertadores, que poderá ser coroado com o de campeão mundial.

Ouça a entrevista abaixo:
Entrevista - Carlos Alberto Parreira by ArthurStabile

domingo, 16 de setembro de 2012

Outra vez no inferno

Foto: Gustavo Tilio/Globoesporte.com

O ano de 2002 é marcado na história do futebol brasileiro como o ano do pentacampeonato da nossa seleção.

Conquista e felicidade máximas para os torcedores dos quatro cantos do país, do Oiapoque ao Chuí. Certo? Não, apesar de parecer estranho.

Pelo menos para a parcela de 15 milhões de palmeirenses este ano não traz boas lembranças da memória.

Time do santo do gol da seleção na Copa, o aposentado Marcos, o Palmeiras viu o fundo do poço chegar e se instalar.

A saída precoce de Vanderlei Luxemburgo, abandonando seu “pojeto” no alviverde, é colocada pela torcida como protagonista do descenso.

Mas definir qual a maior culpa é difícil.

Histórico de más administrações, elenco e time de qualidades pífias – isto quando era elogiado...

Motivos não faltaram para o trágico fim naquele marcante 2002.

10 anos depois, as mudanças e melhorias são claras.

Estrutura com qualidade, técnico indiscutivelmente apto e vencedor, elenco decente – não um dos melhores do país, só que nada desastroso quanto o rebaixado outrora.

E quem diria que após conquistar a Copa do Brasil – onde era apenas um simples figurante – acabando com jejum de 12 anos, o time estaria na atual situação?

Depois de acabar com o sofrimento e espera de sua torcida, o time consegue apagar tal feito e projeta uma tragédia ainda maior que a conquista.

Com a taça em mãos, o time de Felipão não teve forças para sair da zona de descrédito. Pior que isso, estava cada vez se complicando mais.

O fundo do poço está vindo, chegando mais perto a cada rodada.

Ainda mais depois da derrota para o Vasco em São Januário. Se não bastasse o 3x1 e a 19ª colocação, o técnico Luiz Felipe Scolari deixou o cargo de treinador da equipe.

Como muita parte da torcida disse, a parcela do clube que tinha menor culpa do momento que o time vive acabou se tornando o vilão.

Desmerecidamente, inclusive. Pois se não fosse o treinador pentacampeão mundial o time sequer teria vencido a Copa do Brasil, ou até pior, poderia ser rebaixado em campeonatos anteriores.

10 anos depois de sua maior pancada, o Palmeiras consegue se afundar novamente.

No clássico com o Corinthians outra derrota, por 2x0, e jogando com 10 jogadores após a expulsão do atacante Luan.

O lado emocional começa a demonstrar estar totalmente afetado pela ausência de resultados positivos e pelo mau desempenho em campo.

A cada cena a história do Palmeiras fica mais complicada e longe de bons ares.

Com tantas estratégias mal organizadas, planejamentos sem resultado, a torcida já está ficando calejada de tantas pancadas nos últimos anos.

Anos estes que estão transformando o time em uma equipe de médio porte, porque não basta história e tradição para ser grande, é preciso mostrar e comprovar isto a cada campeonato.

Se na Copa do Brasil o Palmeiras conseguiu se aproximar de seu passado de títulos, no mesmo ano o time se distancia cada vez mais com a provável queda.

Pelo que se vê até aqui, o fundo do poço é o destino certo para o clube no final do campeonato brasileiro de 2012.

Como disse Felipe Nabarro, repórter da Federação Paulista de Futebol, o jeito é se preparar para jogar a 

Libertadores pensando na disputa da Segunda Divisão, uma enorme contradição.

A história do alviverde se repete como continuação de um mesmo drama.

10 anos depois, novamente o mesmo clímax surge para o Palmeiras.

Difícilmente este filme terá final feliz.