domingo, 10 de junho de 2012

Arthur Stabile entrevista Plínio de Arruda Sampaio

Há duas semanas aconteceu no plenário da Câmara de Poá o ato contra a criminalização dos movimentos sociais. O evento foi organizado pela Uneafro e pelo Comitê da Cidadania Ativa, e tinha a intenção de debater as constantes perseguições que acontecem com os cidadãos que buscam lutar pelos seus direitos em atos legítimos e garantidos pela constituição federal.

Nele estavam presentes o Deputado Estadual pelo Psol Carlos Giannazi, o Professor Milton Bueno, o representante da Uneafro Douglas Belchior e a representante do Comitê, Patrícia Toni. Mas o principal convidado foi o Presidente Nacional do Psol, Plínio de Arruda Sampaio, candidato à presidência da república na última eleição em 2010.

No dia, tive a oportunidade de entrevistar a principal referência da esquerda política brasileira na atualidade junto com blogueiro Magno Oliveira, do blog Folhetim CulturalAcompanhe a entrevista a seguir:


Arthur Stabile: Na época do governo ditatorial era normal acontecerem perseguições políticas. Agora, em um estado democrático, porque os governos perseguem criminalizando este movimentos sociais?
Plínio de Arruda: Porque na verdade essa democracia é uma democracia muito relativa. É uma democracia para um grupo. Para a burguesia, para que tem força, ai é democrático, ninguém tem violado seus direitos. Mas se você for preto, se você for pobre, se você for pedreiro, quer dizer, os três P, ah, não tem direito nenhum. Não se ponha diante de um policial que apanha mesmo.

AS: Há duas semanas foi instaurada a comissão da verdade. Qual será o papel deste grupo e ele não focará a época da ditadura, e porque esta causa?
PAS: Pois é, eu não estou entendendo bem a missão dessa Comissão da Verdade. Primeiro esse dado que você colocou. Se não vai investigar a tortura na ditadura, quando é que vai investigar? E segundo, eu não gostei da declaração do ministro José Carlos Dias, o Zé Carlos disse o seguinte: eu vou investigar os dois. Como? Quem tem alguma noção, alguma ideia, alguma notícia, algum indício de que a turma da guerrilha, da luta armada torturou um oficial do exército, um soldado. É um absurdo. Entendeu? Uma coisa é você lutar contra dar tiro, matar, isso é um crime. Agora, torturar é outro crime. Torturar é um crime hediondo, e portanto um crime que não prescreve. Se você matar uma pessoa prescreve, depois de 30 anos você está livre. Agora o crime hediondo não tem prescrição, é imprescritível, de modo que não entendi nem a Comissão e não entendi as declarações do seu presidente.

Magno Oliveira: Em 85 houve uma revolução política, o senhor ainda acredita que a política pode ser um meio para mudar o país e o que você pensa de uma revolução educacional e uma revolução cultural?
PAS: Não tem revolução cultural e não tem revolução educacional sem revolução política. Enquanto este regime for um regime burguês, esquece a cultura para o povo, esquece a educação para o povo. A cultura será sempre da elite, a educação sempre para a elite.

AS: Como o senhor analisa a CPI do Cachoeira?
PAS: Complicado. O que me espanta dessa CPI é a CPI. Porque isso é normal. O normal é que os Cachoreiras façam negociatas com os políticos. Isso é normal. O anormal é que isto vá para uma CPI.

MO: O Lula se juntou ao Collor, se juntou com o Sarney. Você acha que ele perdeu o direito de falar que chegou ao poder por ideologia? E também, falta sentimento, falta feeling para quem alcança o poder e continuar sendo o que era antes de chegar lá?
PAS: Não, não falta sentimento para quem alcança o poder. O Fidel Castro está no poder e não perdeu o seu sentimento. Eu tive em Cuba e fui jantar na casa da viúva de um comandante, e ela me disse o seguinte: durante o período especial, nós só não perdemos o poder, não caímos, porque todos viram ,todos, que o Fidel e todos nós comíamos o que todos comiam.

MO: O Lula ao se juntar a estes políticos que eu citei perdeu o direito de falar que chegou ao poder por ideologia? Hoje ele só quer o poder?
PAS: É, hoje eu estou convencido que ele não teve ideologia nunca. Ele chegou, olhou, viu o ambiente e falou: a direita está muito congestionada, deixa eu ir pra esquerda. Foi isso. A hora que ele percebeu que para ir para o poder ele precisada do outro ele foi.

Confira o áudio da entrevista:

Entrevista Plínio de Arruda Sampaio by ArthurStabile

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