domingo, 29 de abril de 2012

Arthur Stabile entrevista Deputado Carlos Giannazi

O blog apresenta mais uma entrevista, a primeira na área política. O entrevistado da vez é o Deputado Estadual pelo Psol (Partido Socialismo e Liberdade) de São Paulo, Carlos Giannazi, que participou do 2º Encontro de Blogueiros e Redes Sociais do Alto Tietê na mesa de tema "Direitos humanos na rede", defendendo os direitos dos homossexuais e da criminalização da homofobia. 

Giannazi é mestre em educação e doutor em história econômica, além de professor do ensino público. É membro titular da Comissão de Educação da ALESP (Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo), além de coordenar as Frentes Parlamentares em defesa da escola pública e da diversidade (Fonte: site do parlamentar). Neste ano foi escolhido por seu partido para concorrer à Prefeitura de São Paulo nas eleições de outubro. Confira abaixo a entrevista com o Deputado.

Arthur Stabile: Carlos, qual a carência da educação do estado de São Paulo?
Carlos Giannazi: A educação precisa de mais investimento principalmente no magistério estadual. O magistério hoje não tem uma carreira adequada. O magistério do estado de São Paulo tem um dos piores salários da federação. Ao mesmo tempo que é o estado mais rico da federação, é um dos estados que menos investe na valorização do magistério, então os salários são aviltantes e baixíssimos. Sem contar que não há investimento em formação continuada dos professores, não há investimento na infraestrutura das nossas escolas. As escolas estaduais estão sucateadas, degradadas, com superlotação de salas. Nós temos o drama da violência nas escolas e a aprovação automática. Então essas são as principais carências hoje da educação estadual.

AS: Muito se diz sobre a falta de interesse dos alunos em aprender. Como mudar este quadro?
CG: Falta de interesse vem na verdade da própria forma como a educação está organizada. É uma escola que não atende as necessidades e dos alunos, porque ela não tem estrutura. Hoje na rede estadual nós não temos salas de informática, nós não temos bibliotecas, nós temos também uma grade curricular que não atrai o aluno, não interessa ao aluno. Então essa falta de investimento na educação acaba desinteressando o próprio aluno.

AS: A mudança dessas matérias seria uma possível solução?
CG: Sem dúvida. A mudança das matérias, como nós já conseguimos algumas. Nós conseguimos trazer a volta da filosofia, a sociologia, o ensino de música agora é uma área obrigatória nas nossas escolas do ensino fundamental. Isso ajuda muito, mas não basta. Nós temos que romper com a estrutura autoritária das escolas e conectar a escola ao mundo real, porque hoje a escola vive num outro planeta. Nós estamos no século 21 e a escola é do século 19 ainda.

AS: O MST tem feito recentemente algumas ocupações por todo o país. Essas ações são boas ou ruins para a sociedade?
CG: Elas são importantes porque as ocupações feitas pelo MST (Movimento Sem Terra) denunciam que no Brasil não tem reforma agrária, que precisa efetivar a reforma agrária e o Brasil não faz isso, porque hoje é governado por grandes latifundiários. O José Sarney é dono de metade do Maranhão, nós temos grandes latifundiários no poder, então o MST é um grito. Um grito de denúncia e de anúncio também, que o país tem que fazer a reforma agrária. O Brasil é um dos últimos países do mundo que não fez ainda a reforma agrária. Todos os países do mundo capitalista já fizeram e o nós temos que fazer. O MST tem uma função importante no Brasil. Existe muito estigma contra o MST, da mídia, dos setores conservadores. Mas se o MST não existisse nós não teríamos hoje os assentamentos que foram realizados e o mínimo de investimento nessa área.

AS: Como o senhor classifica a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em liberar o aborto para os bebês anencéfalos?
CG: Acho uma decisão tardia. Isso deveria estar acontecendo milhões de anos atrás no Brasil, porque imagina, é um absurdo que uma mulher tenha que conviver com este drama. Só defende o contrário quem nunca passou por uma situação, porque eu duvido que uma mulher que esteja nessa situação se posicione contra essa decisão do supremo. É coisa de sadismo ouvir pessoas de um movimento, um movimento pequeno, insignificante, se pondo contra a decisão do Supremo Tribunal Federal. Eu fico pensando como que uma pessoa defende uma proposta como esta e defende uma situação que não é pra ela, porque mesmo uma mulher que é contra ela está defendendo uma situação para uma outra mulher. Eu acho que foi uma decisão acertada, porém tardia. O Brasil já devia ter feito isso muitos anos atrás.


AS: Quais os resultados das ações da PM como a realizada no Pinheirinho?
CG: A polícia militar hoje está toda orientada como aparelho repressor do estado para reprimir qualquer tipo de movimentação social. Qualquer movimento que conteste a ordem vigente, sobretudo setores do poder econômico, será reprimido pelo aparelho de repressão do estado que é representado pela tropa de choque da polícia militar. É a criminalização dos movimentos populares e sociais.

AS: E a operação na Cracolândia?
CG: A questão da Cracolândia é questão de saúde pública. A questão policial ali tem que se restringir ao combate ao tráfico, ou seja, a polícia tem que destruir a fonte de financiamento do tráfico e prender os traficantes. Agora, as pessoas que estão lá na rua, na sarjeta, são pessoas dependentes de drogas, são dependentes químicos e devem ser tratados. A polícia tem uma função importante, mas para combater o tráfico e não espancar e reprimir aquelas pessoas que já estão espancadas socialmente.

Político foi escolhido pelo Psol para disputar as eleições
da prefeitura de São Paulo em 2012 (Foto: PsolSP)
AS: De que forma as greves contribuem para a sociedade?
CG: A greve é um instrumento legítimo dos trabalhadores. É um instrumento garantido pela constituição federal. É o último recurso que o trabalhador utiliza quando o seu salário é rochado (sic), quando as condições de trabalho são extremamente precarizadas, quando o patrão não negocia. É a única forma que ele tem. Então ela é importante. É um instrumento de luta, é um instrumento democrático que tem que ser utilizado no momento certo.

AS: Falando das mídias, até onde vai a influência dos governos municipais, estaduais e federal na mídia brasileira?
CG: Eles compactuam na verdade. A mídia muitas vezes está a serviço dos governos e os governos a serviço da mídia. Tanto é que nós não temos um marco regulatório. Hoje a grande imprensa não é democrática. Nós não tivemos ainda a democratização dos meios de comunicação porque a mídia está hoje a serviço do poder econômico e dos governos, todos eles, principalmente governos conservadores.

AS: Qual a importância da internet, das mídias digitais e dos blogs para a mudança desse quadro?
CG: A internet é um espaço importante que deve ser ocupado pela população e pelos movimentos sociais. É o único espaço de mídia que nós temos que não foi ainda totalmente cooptado e apoderado pelos grandes meios de comunicação e pelo poder econômico. Então ela é um espaço que nós possamos fazer uma grande mudança no Brasil e no mundo.

AS: Você é pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Como você analisaria o atual quadro político para as eleições de outubro?
CG: Nós temos em São Paulo a falsa polarização entre o PSDB e o PT, que são partidos da ordem, são as duas faces da mesma moeda. E ao mesmo tempo nós temos os partidos que são aliados e satélites dessas duas legendas. Nós vamos romper a polarização. Nós vamos colocar o dedo na ferida, dizer verdades, vamos tocar em pontos centrais da crise da cidade de São Paulo, que tem a ver com a especulação imobiliária, ainda que representa os interesses das empreiteiras. Todos os partidos estão comprometidos com a especulação, com as grandes construtoras/empreiteiras. Nós do Psol vamos fazer uma campanha polêmica, vamos fazer sangrar nessa campanha, porque vai ser o único partido que vai tocar nos pontos centrais da crise de São Paulo.

AS: Como você classificaria as prévias para a escolha do candidato José Serra pelo PSDB?
CG: Foi uma farsa. Uma previa para inglês ver.  Porque todos nós sabíamos que o Serra ia ganhar, que ele domina a maquina partidária. Já havia um pré-acordo para que isso acontecesse. Então foi uma previa para dizer que o PSDB é democrático, faz prévias, mas foi uma previa para a televisão apenas.

AS: O apoio de Lula à Haddad dá força ao candidato ou foi uma escolha errada do PT?
CG: Sem o Lula o Haddad não existe. O Haddad é uma criação do Lula, vontade dele, um capricho do Lula. Então se o Lula não bancar a campanha dele, politicamente falando, ele (Haddad) não tem a mínima condição. Eu acho que ele foi imposto de cima para baixo. Isso também rompe o discurso de que o PT é um partido democrático. E isso é ruim para o PT... É péssimo.

Ouça a entrevista com o deputado Giannazi:
Entrevista Deputado Carlos Giannazi by ArthurStabile

3 comentários:

  1. Arthur, o 2º Encontro de Blogueiros e Redes Sociais do Alto Tietê foi maravilhoso. É muito bom relembrar como foi e das pessoas que tivemos o prazer de compartilhar experiência. Um deles, sem dúvida, é o Giannazi.

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  2. Gostei da entrevista do Dep. Giannazi. Ele mostrou que tem propostas e compromisso com a democracia participativa. Acho que ele vai fazer a diferença nessa campanha.

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  3. Acho muito importante o compromisso do candidato Carlos Giannazi com democratização dos meios de comunicação, além da melhoria da qualidade da educação.

    Eliseu Rosendo Nuñez

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