sábado, 22 de janeiro de 2011

Basta idade para ser adulto?

De vez em quando é bom falar um pouco sério, então resolvi escrever sobre algo muito comum em nosso país a partir de uma frase que criei após vivenciar alguns casos.

“Parte de nossa sociedade é formada por crescidos adolescentes inconscientes, inconsequentes e impenetráveis.” Arthur Stabile

Não há como fugir de um tema tão complexo e interessante quanto este da frase anterior. Um debate de tal conteúdo sem dúvidas gera uma discussão (no sentido verbal e positivo) longa, sob diversos prismas e milhares de aspectos a serem introduzidos, questionados e estudados. Em uma sociedade diversificada como a nossa existem muitos pontos a evoluir e se desenvolver, e este é um deles. O texto a seguir tem o objetivo de conscientizar sobre atitudes mal pensadas e já postas em prática e mostrar alguns exemplos e consequências de quem pensa apenas em si e acha que somente a sua opinião é a que vale e se sobressai sobre todas as outras, agindo somente por impulso.


São muitos os causadores e gatilhos de indivíduos trancafiados em seus mundos. A principal criadora destes cidadãos em nosso país é a educação de má qualidade. O motivo é por não discutir aspectos sociais, políticos e éticos da forma devida nos ensinos básicos, causando alienação e consequentemente desinteresse por estes temas ao longo da vida na maioria das pessoas.

Como estes assuntos são colocados de forma burocrática, cansativa e desestimuladora fica complicado despertar a atenção de crianças e jovens, que se interessam pelas coisas quando se divertem independente do tema a ser tratado/desenvolvido na brincadeira, atividade ou qualquer outro tipo de interação. Se bem que ter indivíduos que pensam desta maneira é interessante para o governo que dessa forma pode se perpetuar, por não ter quem bata de frente com ele ou que não esteja de acordo com suas ações, mas isso não vem ao caso por enquanto.


Outro aspecto que influencia estes jovens a viver toda a sua história utilizando uma espécie de cabresto é a convivência familiar que, quando pequenos, é muito presentes na formação do caráter/índole dos futuros cidadãos. Exemplos ruins fazem com que a criança absorva pensamentos inapropriados (chegando até mesmo a se tornarem ilegais em alguns casos) e que carregam durante sua trajetória pensando serem positivos e apropriados em todos os casos e em qualquer circunstância. Podemos ver um exemplo no tão conhecido jeitinho brasileiro. Em muitos casos em que podemos sofrer alguma consequência negativa (a nosso ver) tentamos fazer o possível para que a situação mude e se volte a nosso favor.

Um jeitinho brasileiro que sempre utilizo de exemplo é o da multa no transito. Quando infringimos alguma lei e merecemos punição tentamos persuadir o coitado do guarda, que escuta de quase todas as pessoas desculpas esfarrapadas e idiotas somente pra se livrar de um castigo merecido, estudado nas auto-escolas e conhecido de todos nós. Em muitos destes casos estamos apenas respondendo a erros ou atitudes que fizemos conscientemente.


O problema é: consciência é algo relativo, sua interpretação varia de pessoa para pessoa. Para alguns, tomar decisões e agir com o impulso da escolha é consciente, porém, acredito que atitudes conscientes são aquelas pensadas, cogitadas as consequências e futuros contratempos ou empecilhos no decorrer dos planos, e, principalmente, discutir a escolha para realmente descobrir e ter certeza se é a melhor ou não a ser tomada.

Outro ponto a ser tocado é a ideologia, que é o conjunto de convicções e convenções (no sentido de união) filosóficas, religiosas, jurídicas (em relação às leis), sociais e políticas. Muitos nem sabem o que significa esta palavra ou no máximo escutaram a música do Cazuza uma vez ou outra.

O problema disso é que sem uma ideologia formada, uma pessoa não tem necessariamente que basear suas ações em pensamentos ou atitudes previstas e pré-determinadas por ele e classificadas como positivas, aceitáveis e passíveis de acontecerem sem atacar ou ferir alguém de qualquer maneira que for. Neste caso, as ações do dia-a-dia são definidas de acordo com as circunstâncias do momento, visando sempre o bem individual e não o correto ou o bem comum.


Exemplificar as coisas é sempre bom, neste caso podemos supor que alguém perdeu uma carteira com uma quantia elevada de dinheiro que seria de grande importância para sua vida junto com documentos e alguma forma de contato. A atitude da pessoa depende de sua índole, caráter e ideologia. Se esta possui ideais coletivos, visando sempre o bem de todos e ser correto em todas as ocasiões sem dúvidas devolveria a tão importante carteira ao dono sem pensar duas vezes. Se tiver pensamentos ilegais faria o contrário, ficaria com a carteira sem cogitar sua devolução. Agora, se essa pessoa não tem idéias definidas dependerá muito do momento para decidir algo, podendo ficar com o dinheiro se precisar em tal momento ou simplesmente devolver se não for algo necessário naquele instante.

Ou até pior, devolver o objeto ao dono e ficar esperando uma recompensa por ter apenas feito o certo, e se não o consegue se enfurece e se arrepende de ter sido uma boa pessoa, tendo grandes chances de não fazer o mesmo em outra oportunidade, só para se dar bem naquele instante sem fazer esforços.


Vendo isso fica claro que essas pessoas agem por impulso, sem pensar duas vezes nas suas escolhas e nas consequências de devolver a carteira ou não no exemplo anterior.

Continuando este assunto podemos entrar em outra característica. No pensamento comum roubar uma pessoa rica, que consegue se manter tranquilamente sem se preocupar com uma perda pequena dessas, é diferente e menos criminoso quem faz do que quem rouba um pobre, que sua o dia inteiro durante um mês para ganhar o seu salário mínimo e tem que fazer milagre para sustentar sua família com filhos e esposa. De acordo com o código penal roubar uma caneta ou um banco são classificados como crime, sendo o diferencial com ou sem ameaça, mas a essência é a mesma, tirar algo de alguém em benefício próprio. O diferencial não está na punição legal desta ação, mas sim na reação e indignação das pessoas.

A ética (valores morais da conduta humana) de cada um analisa esta questão e a classifica de acordo com a sua ideologia, que já foi dita acima. Quando alguém burla a lei, da maneira que for, tem que ser punido e responder por seus atos da mesma forma em qualquer circunstancias, sem benefícios por motivo A ou B, e o julgamento comum das pessoas deveria ser igualitário para quem se favorece incorretamente de um rico ou de um pobre, não classificá-los de formas diferentes.


Vamos agora as possíveis soluções que podem ser tomadas. A primeira sem sombra de dúvidas é a melhora da educação pública nacional, que resolveria ou ao menos diminuiria grande parte de problemas básicos e comuns na nossa sociedade como racismo, homofobia e outros. Como fazer isso? Basta focarmos em matérias que envolvam as ciências sociais, pois suas discussões melhoram a forma das pessoas verem as coisas, tornando-as críticas, analisadoras e que compreendem as diferenças, fazendo muitos preconceitos (conceitos anteriores ao entendimento do assunto) não existirem, e isso melhoraria a convivência das pessoas. Claro que o caráter de cada um faz com que isso seja fácil ou impossível de acontecer, porém, com a presença de tal fator seria mais fácil ser visto o lado humano, generoso e honesto dos indivíduos.


Só aumentar as matérias que focam o social não teria resultados visíveis em pouco tempo, teria que acontecer a melhora na formação dos profissionais desta área para que esse objetivo de formar e despertar bons cidadãos seja alcançado mais rapidamente e de forma mais efetiva. Além de serem levadas as séries iniciais da escola, não somente ao ensino médio, tendo assim muito mais tempo para desenvolver tal trabalho de conscientização nas futuras gerações da nossa nação. 

Sendo assim a segunda solução viria com o tempo. Com pessoas mais críticas e compreensíveis os filhos desses indivíduos teriam um exemplo familiar incrível, fazendo com que esses exemplos se tornem comuns na nossa sociedade, melhorando a vida de todos, até mesmo aos que mesmo com tantas influências e exemplos bons se mantiveram em seus mundos e só pensam no seu próprio umbigo.


É um assunto complexo e merece nossa atenção. Precisamos começar a ter o costume de discutir todo e qualquer assunto sem colocar barreiras e tabus tolos que não nos levam a lugar algum, pois o diálogo é a base da comunicação e consequentemente da informação de todos e a informação é instrumento de mudança primordial que está ao nosso alcance, ainda mais para quem tem a intenção de aprimorar o cidadão que é, a única coisa necessária para que isso ocorra é vontade e empenho de cada um.

Se isso ocorrer será um grande passo para que possamos nos tornar uma sociedade mais amável, acolhedora e generosa, e, consequentemente, desenvolvida humanitariamente e exemplo para todo o mundo.

4 comentários:

  1. Muito bom, cara!!
    É longo, mas tem coisa boa pra refletir e se conscientizar em cada linha!
    Achei legal a parte que você falou do "jeitinho brasileiro". Realmente... é tentar escapar da punição mesmo estando ciente do erro. Muito tenso isso...
    Gostei das imagens também! Nunca tinha olhado a capa do "Ideologia" assim de perto. Muito bacana.
    Parabéns ae! \o/

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  2. Sensacional a argumentação, companheiro Arthur. Gostei bastante e concordo em gênero, número e grau. É um processo longo? Sem dúvidas. Mas, se não começarmos, nunca terminaremos.
    Parabéns pelo texto e estamos juntos.
    Abs,
    João Vitor.

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  3. Ai que orgulho em ter um amigo assim, tão integro e inteligente, e para comprovar q idade não tem nada haver tenho "quase" 30, e sou sua amiga e colega de classe hahaha!Amei e já estou te seguindo!Bjinhos

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  4. Arthur, adorei seu texto. Profundo, bem trabalhado e convidativo para um debate. Por concordar com sua análise, perceber determinadas angustias e ao mesmo tempo, ver que muitas coincide com aquilo que acredito, vou estar sempre acompanhando a evolução de seu pensamento e aprender com ele... grande abraço.

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